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27 de junho de 2013

Boto Cor-de-Rosa

 ۞ ADM Sleipnir

Arte de Francisco Andrade, para o cardgame "Lendas e Batalhas"

Boto Cor-de-Rosa (também conhecido somente por Boto, ou por outros nomes como Uauiará, Boto Rosado, Boto Branco, Boto Vermelho, Sedutor das Águas, Príncipe das Águas, Chapeleiro de Arraias, entre outros) é uma das criaturas mais famosas do folclore brasileiro e, assim como a Iara, possuindo origens em tradições européias. Tradicionalmente, trata-se de de um boto-cor-de-rosa encantado que, em noites de lua cheia, deixa as águas para visitar a terra firme. Algumas versões da lenda afirmam que ele se transforma durante noites em que haja alguma festa ocorrendo em comunidades ribeirinhas, enquanto outras que a transformação só acontece na lua cheia do mês de junho, durante as festividades de Santo Antônio, São João e São Pedro.

Ao deixar as águas do rio, o Boto assume a forma de um homem belo e irresistivelmente atraente e vaga noite adentro atrás de uma mulher para seduzir. Existem versões da lenda que falam que ele procura a mulher mais bonita da festa, e outras, que ele não procura necessariamente a mais bonita, mas sim uma mulher virgem.

Arte retirada do livro Lendas Chiaoscuro Studios Yearbook 2018, à venda na Amazon.

O Boto é um ser comunicativo, galante e conquistador. Está sempre trajado de branco, e em sua cabeça ele usa um elegante chapéu, o qual serve para ocultar o orifício pelo qual ele respira. No Amazonas, acredita-se que o Boto carrega consigo uma espada, e que tanto ela quanto as roupas e outros itens que ele traja são na verdade outros animais aquáticos metamorfoseados. A espada é um peixe-elétrico (poraquê), o chapéu é uma arraia e o cinto e os sapatos são outros tipos de peixe. 

Uma vez que o Boto estabelece o seu alvo, ele certamente irá convencê-la a acompanhá-lo para dentro de um rio, onde terão sua noite de amor. Quando sua vítima dar-se conta, já amanheceu, e o amante arrebatador desapareceu. Algum tempo depois, ela acaba descobrindo que engravidou dele.  Por esse motivo, a lenda do Boto é utilizada muitas vezes para justificar uma gravidez fora do casamento. Quando não se sabe quem é o pai de uma criança, é um costume dizer que ela é "filho do boto”.


O "Boto Fêmea''

No Amazonas, existe a crença de que o Boto pode se transformar em uma bela mulher, e nessa forma ele seduz homens para dentro do rio, não para se relacionar com eles mas sim para afogá-los. Ele o faz agarrando-os pela cintura e os arrastando para dentro do rio. 

Também no Amazonas, além do Pará, existem histórias sobre uma criatura distinta chamada de "Bota". Esta sim se relaciona sexualmente com os homens que seduz, e ao contrário do Boto, volta a procurar seus alvos regularmente como uma verdadeira mulher apaixonada. Dizem que aqueles que se relacionam com ela contraem uma doença conhecida como "uiara" ou "doença de boto", que provoca crises nervosas, sensação de sufocamento, convulsões e angústia.

Origens

Embora muitos acreditem que a lenda do Boto tenha se originado da cultura indígena, de acordo com estudiosos não haviam registros de nenhuma lenda semelhante nela até o século XVII. Além disso, os primeiros registros de lendas e crendices relacionadas ao Boto Cor-de-Rosa como um símbolo amoroso datam do século XIX. Acredita-se que de alguma forma as lendas tenham sido resultado de influências externas e que podem ter sido trazidas para a região pela influência da cultura europeia e, até mesmo, da cultura africana.

Arte de Everaldocas

O que sabemos hoje sobre lendas relacionadas ao boto é que existe uma forte conexão com a forma como os gregos enxergavam os golfinhos. Tanto o boto quanto o golfinho são cetáceos, portanto pode haver uma continuidade na forma como esses animais são enxergados na tradição popular. Para os gregos, o golfinho era um símbolo de luxúria que estava diretamente relacionado com o culto de Afrodite/Vênus, a deusa do amor e beleza no mundo da Antiguidade clássica. Existem também relatos que apontam a existência de uma visão fetichizada do golfinho na cultura grega que o relacionava com falos e com os movimentos do ato sexual. De alguma maneira que desconhecemos, essa visão de um cetáceo como símbolo de luxúria permaneceu e se manifestou na cultura popular. Os viajantes que passavam pelas regiões amazônicas chegaram a associar erroneamente lendas indígenas com o boto, conforme relatou o antropólogo Luís da Câmara Cascudo em sua obra Geografia dos Mitos Brasileiros.

A popularização de lendas que relacionavam o golfinho com a luxúria fez com que muitas crendices se espalhassem, como uma relatada pelo próprio Câmara Cascudo que menciona que o olho seco do boto-cor-de-rosa servia como um amuleto amoroso.

Arte de Elcias Neto

fontes:


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7 comentários:

  1. mt bom,posta sobre as criaturas lendárias da mitologia tupi-guarani

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    1. Sleipnir: Com certeza estaremos trazendo mais seres da mitologia tupi/guarani, temos já uma postagem no blog sobre o deus Tupã: http://portal-dos-mitos.blogspot.com.br/2013/03/tupa.html, e dentro do possível estaremos trazendo mais coisas. Continue prestigiando nosso blog com sua leitura.

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  2. Acho muito legal quando falamos da cultura do nosso povo. Tem muito mito ainda. Continuem assim Sleipnir e equipe (:

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  3. Pra quem tiver mais interesse tem o filme também:
    http://www.youtube.com/watch?v=Z7ZlaRWHiOQ

    Parabens pelo blog excelente trabalho!

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  4. Realmente, muito legal focarem em mitos brasileiros, é uma decepção que só encontro na internet aqueles que você quase morre de tanto ouvir falar, mas o resto dos mitos parece que sumiu :( sobre o boto: sério, fiquei com dó, pensei que o cara era um safado que deixava as namoradas grávidas pra buscar outra, esse aí quis se casar com a moça, o que na época deveria significar que ele realmente gostava dela (divórcio antigamente era mau visto) e daí vai um idiota com a espingarda e pronto :(

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    1. Realmente você não entendeu nada Liv. O pai estava protegendo a filha. O boto é quem foi desleixado e dormiu mais do que podia e, de dia, tendo perdido o encanto, voltou a ser boto, assustou a esposa e produziu o efeito contra ele mesmo. Se não tivesse sido desleixado, certamente continuariam casados. Só não sei é se o boto poderia ter evitado a morte da esposa durante o parto ou se salvaria apenas o filho e abandonaria a família da moça.
      Segundo a lenda original o boto seduz, engravida e abandona as moças para irem atrás de outras.

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    2. Original não né é a modificada.

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